Alunos de Medicina do Cesmac desenvolvem artigos sobre a pandemia em importante produção acadêmica

Resultado é fruto de trabalho realizado em conjunto com os professores Lúcio Verçoza, Rafaela Brandão e Ana Tojal, com destaque no caderno “Campus” produzido pelo Prof. Dr. Luiz Sávio de Almeida, no impresso O Dia

18/06/2021 às 11h14

Acadêmicos do curso de Medicina do Cesmac participaram de importante trabalho em sala de aula, que resultou na produção de relevantes escritos e reflexões sobre a pandemia do novo Coronavírus, que vem assolando todo o mundo desde o ano passado.
A atividade foi desenvolvida por alunos do primeiro período, no módulo Integração Serviço, Ensino e Comunidade (ISEC), durante o segundo semestre de 2020, com a orientação do docente Lúcio Verçoza, que também é Sociólogo, o que fez toda diferença no processo. A iniciativa também teve a colaboração das professoras Rafaela Brandão e Ana Tojal, ambas também do curso de Medicina do Cesmac.
O objetivo foi analisar e entender a epidemia do cólera no século XIX, além de traçar o inevitável paralelo para avaliar o que o cólera tem a dizer sobre a pandemia da COVID-19 no século XXI. As questões foram discutidas com base na obra-guia que norteou os debates: “Alagoas nos tempos do cólera”, do historiador Luíz Sávio de Almeida.  O livro persegue o itinerário do vibrião e revela com maestria as relações entre a sociedade e o processo saúde-doença. Obra que já nasceu clássica tanto para as Ciências Sociais, quanto para a Medicina.
Historiador Luíz Sávio de Almeida
O autor teve a generosidade de participar da aula e sublinhou: “não se pode perder de vista a dimensão social da doença e da saúde. E isso vale tanto para o historiador, quanto para o médico”, ressalta Luíz Sávio de Almeida. O resultado também foi destaque na editoria “Campus”, publicada pelo pesquisador no impresso “O Dia”.
O orientador faz questão de expressar a importância do resultado e a gratidão a todos os envolvidos. “Aproveito ainda para agradecer a Luiz Sávio de Almeida e ao Jornal “O Dia” por possibilitarem a publicação desses escritos – que no fundo são um registro das reflexões de jovens aprendizes da Medicina diante da pandemia”, declara Lúcio Verçoza.
Professor e Sociólogo Lúcio Verçoza
 
Confira abaixo os Artigos produzidos pelos alunos:
 
Título: Acerca da análise do historiador Luiz Sávio de Almeida sobre as epidemias e pandemias.

Letícia Cantuária Santana

Presenciamos um mmento histórico, o qual necessita do entendimento epidemiológico fundamentado na organização social e na fatídica cidadania agônica de Luiz Sávio de Almeida. oRelaciono esse chamamento ao exercício cidadão dos fadados ao esquecimento em tempos de agonia, reduzindo o caráter pandêmico à regionalidade epidemiológica social, à forma como nos tornamos vulneráveis a epidemias devido à construção social em que vivemos.
A ideia trazida pelo historiador Luiz Sávio de Almeida de que a história estuda os processos de mudança que ocorrem durante o desenvolvimento de uma sociedade, sendo assim um estudo de sistemas de relações, levanta um ponto importante no quesito da construção histórica relacionada a processos epidêmicos: O trânsito existente nesse processo de mudança escancara contradições sociais e agrega novos valores aos já preexistentes.
Tendo como base teórica um verdadeiro plot twist histórico, Luiz Sávio de Almeida joga na mesa uma perspectiva a partir do ponto de vista do sofredor e da agonia que nasce do caos implantado pelo absoluto descontrole econômico somado ao terror mortífero das epidemias. Dessa forma, surge a necessidade em desviar os holofotes dos heróis históricos para os anônimos no processo de criação do novo. Em seu estudo sobre o cólera, houve um enfoque ao pavor e ao horror do sofrimento por antecedência nas cidades que abriam covas e ampliavam os cemitérios enquanto a população agoniava numa espera da tragédia que estava por vir. 
O corona, assim como foi com o cólera, passa por dentro da nossa formação histórica e se nutre da estrutura social maltratada com a qual se depara. É por meio dessa construção espacial em que existimos que a transmissão do vírus deve ser analisada, até mesmo pelo fato de ele só existir devido à nossa existência e da forma como existimos. Através dessa reflexão pode-se chegar à conclusão trágica de que nós somos a epidemia, ela é feita à nossa imagem e semelhança.
Numa sociedade estruturada na desigualdade, submetida a uma gestão tola e estúpida, os conceitos de democracia e cidadania tendem à conveniência. Desse modo, se torna ilógica a culpabilização do indivíduo sobre o aumento da transmissão sem levar em consideração a cobrança da higiene de quem não tem acesso à água. É perigosamente ignorante imaginar que todos estão no mesmo barco e se sentir no direito de cobrar a terceirização de uma responsabilidade que é do Estado: Higiene básica é questão de saúde pública!
O conceito de cidadania agônica trazido pelo historiador Luiz Sávio de Almeida é pertinente para ilustrar esse cenário: pessoas marginalizadas eram chamadas a responder com atitudes que elas jamais poderiam saber que existiam. Dito isso, vale ressaltar que essas pessoas chamadas a serem cidadãs em épocas de agonias são as mesmas que têm seus direitos negados diariamente pelo Estado. A pobreza como fator agravante do cenário epidemiológico permite que o vírus tenha a  condição de se tornar histórico e essa historicidade só é possível ser analisada a partir da constatação do fato de que  vivemos numa sociedade de carência na qual o vírus se contextualiza.
É ilusório acreditar num aprendizado coletivo pós coronavírus ao ser levado em conta o passado histórico de outras epidemias, o medo não convence a longo prazo e a sociedade não está disposta a adquirir novos hábitos e atitudes que mudem seu rumo.
Em uma de suas sábias falas, o historiador levanta o ponto indiscutível de que vivemos num país escasso de utopias, onde inexiste a ideia de se construir um mundo novo. Vivemos num contexto mórbido em que cabrestos imaginários são o adereço da moda dos defensores do estado mínimo e do atual governo que defendem ideais negacionistas e segregacionistas.
É preciso ampliar o debate reformista para que haja a libertação da farsa imposta por um governo medíocre e pelos seus aliados, principalmente aos que carecem também de educação, e construir de forma eficaz uma integração com a comunidade. Em tempos difíceis, a indignação há de servir de combustível para mudanças, em memória àqueles cujo sofrimento se perdeu no tempo e estão fadados ao esquecimento.
 
 
  
Título: Pandemias: Medos antigos, realidades atuais.

Lucas de Jesus Silva

A pandemia global do novo coronavírus chegou como uma avalanche nas comunidades globais, trazendo consigo um misto de medo, pânico, dúvidas e incertezas, tanto sobre o futuro quanto sobre outras realidades semelhantes em tempos remotos, como as moléstias decorrentes da cólera no século XIX. A realidade pandêmica atual, iniciou-se de forma sutil em algumas cidades da China e se espalhou, progressivamente, mundo afora, atingindo desde grandes potências como Os Estados Unidos até países com realidades completamente diferentes na África, causando milhares de mortes e tornando visíveis situações latentes que, por diversos motivos, poderiam não ser evidentes às populações em períodos de normalidade social. Logo, percebe-se que as pandemias funcionam, também, como um mecanismo de amostragem para análises sociais, revelando o que realmente importa para as sociedades e evidenciando que muitos comportamentos, individuais e coletivos, são repetidos no decorrer de cada uma delas.
Antes de tudo, torna-se evidente a estrutura arquetípica de um surto pandêmico, como proposto pelo historiador Charles Rosenberg, e que se observa no panorama atual do COVID-19 e que se observou, através de estudos historiográficos de Alagoas e de outras regiões do Brasil, com o Cólera. Segundo ele, as epidemias se desenvolvem em três atos. O primeiro, caracteriza-se pela relutância dos indivíduos em reconhecer o caos eminente, o que contribui para a disseminação do patógeno e para o aumento no número de mortes, forçando o reconhecimento da crise de saúde pública. No segundo ato, a população – agora ciente da situação de crise – reivindica medidas preventivas e cobra explicações ao Poder Público na tentativa de conter o avanço da pandemia. Enfim, no último ato, as epidemias acabam, seja pelos esforços da população no combate ao patógeno, seja com o esgotamento das possíveis vítimas.
Inicialmente, foi pelo porto do Pará que o cólera abarcou no Brasil em 1853, no entanto foi através de sistemas mais modernos que o Coronavírus aterrizou no Brasil, pelos aeroportos de São Paulo. No Pará rapidamente o vibrião do cólera desceu do navio e tomou a cidade de Belém. Em São Paulo, o vírus da COVID-19 demorou um pouco mais para se espalhar, muito em virtude dos casos assintomáticos e do grupo restrito da camada social em que o vírus se alojava, de início. Entretanto, as mortes começaram em questão de poucos dias. As mídias televisivas e jornais, bem como a internet, anunciou os rastros de morte das duas doenças, em épocas completamente diferentes, mas com um medo tão igual quanto. A demasiada publicação dos números de mortes, que crescia cada vez mais, nas duas situações contribui para instaurar um pânico social. Contudo, vale ressaltar que em 1855, com a epidemia da cólera a morte assumia estruturas coletivas, trazendo vítimas desde a Casa Grande até a Senzala, porém as suas estruturas sociais permaneciam intactas. Na atualmente, com o novo coronavírus, o curso da pandemia segue o mesmo caminho, assolando milhares de vítimas de todas as classes sociais, porém o preço pago por aqueles menos abastados é muito maior.
Nessa perspectiva, vale destacar que segundo o historiador Luiz Sávio de Almeida, na obra Alagas nos tempos do Cólera, ressalta que a memória do cólera foi apagada nas entrelinhas e a experiência vivenciada no período pandêmico do vibrião foi perdendo clareza. Porém, tais lembranças foram ficando firmes na medida em que se incorporou ao imaginário da cultura popular. Isso porque, segundo ele, “quanto mais a doença interfere no viver coletivo mais estará associada na memória, na recordação, e mais densamente estará na cultura que lhe é pertinente”. E esse contexto cultural explica muito bem a questão de muitos xingamentos estarem associados a enfermidades vivenciadas pelas pessoas, a exemplo de: “peste bubônica”, “bexiga-lixa”, “gota serena”, “febre do rato” e muitas outras como o dito “vá pra casa da peste”, que perdura até os tempos de COVID-19 como sinônimo de um lugar que ninguém cogita conhecer. Evidenciando, assim, a permanência da história de um passado que não pode ser totalmente esquecido.
Em suma, a presença dos surtos epidêmicos e a sua correção cultural não altera o drama social e político, visto que, ainda segundo Luiz Sávio de Almeida, apesar de toda a força agonizante e destrutiva do cólera e do COVID-19, estes, não conseguiram abalar por completo as estruturas sociais da desigualdade. E, em 2020, com o novo coronavírus, diversas são as forças que mantem essa estrutura arquetípica de desigualdade. Logo, muitas das estratégias de prevenção disseminadas pelos meios de comunicação com a pandemia de 2020, como a higienização das mãos, uso de álcool gel e de máscara ou o isolamento social traz a tona questionamentos do quanto que essas medidas são inclusivas e que não excluem, na prática, aqueles indivíduos em situações de vulnerabilidade social. Nas palavras do historiador Luiz Sávio de Almeida, como explicar para alguém que nunca teve acesso a água potável, que ela precisa lavar e higienizar as mãos o tempo todo, devido ao vírus? Uma sociedade na qual o lucro e os interesses privados prevalecem sobre o bem-estar da população está fadado a contabilizar muitas e muitas mortes.
 
 
Título: Inimigos Invisíveis e Indivíduos Insensíveis.

Giulia Góes Pachêco

Como disse certa vez Abel Salazar, um médico português, "o médico que só sabe medicina, nem medicina sabe". O cenário atual nos comprovou isso a partir do momento em que a Medicina e a ciência se depararam, mais uma vez, com uma situação em que as incertezas são muito maiores do que as certezas, e em que quando se pensa estar progredindo, somos novamente trazidos ao estágio inicial.
Um novo vírus, mas uma realidade muito parecida com a já vivida anteriormente por outras gerações. A pandemia do Corona Vírus atingiu as populações inicialmente de forma silenciosa, escondida e poderosa. Ninguém esperava, ou ao menos, acreditava nunca ter que vivenciar algo parecido; viver em uma realidade em que o distanciamento social virou regra e o contato virtual passou a ser a principal forma de comunicação entre as pessoas.
Peste Negra, Gripe Espanhola e Cólera, todas são pandemias que se alastraram na população e causaram o mesmo sentimento na sociedade: angústia, revolta, medo. Falando principalmente sobre a Cólera, devido sua presença significativa no Nordeste brasileiro, especialmente em Maceió, não é difícil encontrar similaridades com a situação atual do país. Apesar da diferença na forma de contágio, a pandemia da Cólera - que tem como principal foco a infecção do trato intestinal, e a transmissão através da rota fecal-oral por ingestão de água e alimentos contaminados em locais de baixo saneamento - possui inúmeras correlações com a pandemia do Coronavírus. Na época, a principal medida utilizada pelo governo e autoridades em saúde para conter o avanço da doença foi a higienização pessoal. E isso é o que mais temos escutado hoje em dia.
Estamos em um mundo onde pessoas não são mais pessoas e sim números, contabilizados em um painel e anunciados a todo tempo. Você não conhece aquela pessoa que morreu na Ásia, do outro lado do mundo, ou na Argentina, bem aqui do lado. Para você, assim como para outros milhões, ela é só mais um número no meio de tantos outros que tiveram suas vidas arrancadas por um inimigo invisível. É difícil acreditar que a humanidade não muda seus hábitos, mesmo após tamanha devastação. Na teoria, acreditamos que tudo muda a partir do momento que algo ruim acontece e nós acordamos em uma realidade totalmente diferente da que estamos acostumados, mas se isso é verdade, por que ainda vivemos épocas em que situações antes já vividas, ainda nos afetam?
Não falo sobre o controle de agentes, mas sobre a forma como o ser humano trata a situação. No caso da pandemia da Cólera, como dito anteriormente, a higienização pessoal era de extrema importância para que a doença fosse contida e a falta de saneamento em diversos locais se mostrou um enorme agravante, então, por que ainda é preciso lutar - muitas vezes por muito tempo e sem sucesso - para que seja instalado um sistema de saneamento nas comunidades? Sabemos a importância e o problema que essa falta pode acarretar. Milhares de pessoas morrem, famílias ficam incompletas, mas o ser humano pensa estar tudo bem continuar tudo do jeito que está.
Houve uma época em que o governo chegou a dizer que "é só cavar mais covas" e isso mostra o quão desumana a sociedade pode ser; ignorar as causas e o que deve ser feito para prevenir é mais fácil do que tratar a população e mudar costumes. Com a Covid é a mesma situação, as pessoas morrem, o isolamento é obrigatório e a aglomeração é vetada, mas boa parte da população custa em não entender essa necessidade. Enquanto muitos estão morrendo, estão internados lutando pela vida ou sofrendo pela perda de entes queridos, outros continuam vivendo sua vida normal, quando, na verdade, nada está normal. As pessoas são insensíveis e esse é o maior problema.
Citando o historiador alagoano Luiz Sávio de Almeida, "a pandemia não é apenas o Covid, mas nós também". Isso só confirma por que é tão importante tratar a Medicina como uma área interdisciplinar. Ao se trabalhar com pessoas é preciso ter uma visão ampla dela como um indivíduo com um papel singular na sociedade. Quando um paciente chega ao hospital ou UPAs com Covid (ou qualquer outra doença) é preciso analisar todo o aspecto em que aquele indivíduo está envolvido; não focar apenas na doença e sim na pessoa como um todo.
 
 
Título: Epidemias e Pandemias sob o olhar de Luiz Sávio de Almeida: um artigo de opinião.

Clarissa Maria Tito Beltrão

Luiz Sávio, baseou a teoria de sua pesquisa, para o desenvolvimento da obra “Alagoas em Tempos de Cólera”, em Edward P. Thompson (1924 -1993), teórico do Marxismo Inglês. O mais interessante em Thompson é que ele traz luz à história de um ponto de vista diferente do comum, com o olhar diferente do hegemônico/vencedor/heroico. E foi isso que Luiz buscou revelar em seu livro: a visão dos doentes, da população, sobre o tema, afinal, até aquele momento, a produção histórica sobre a cólera em Alagoas tinha apenas o ponto de vista médico, dos atores aportados pela ciência.
Mas o quão importante é isso? Quando a análise aborda o pavor e a lógica dos sujeitos nas cidades que se preparavam com antecedência para “receber” a doença - já que, invariavelmente ela chegaria -, construindo cemitérios, por exemplo, e a amplitude situacional gerada pela precariedade, quando comparada aos dias atuais, do conhecimento médico sobre o patógeno e sua ação - comum, afinal, tanto a medicina quanto a ciência avançam e se redescobrem com o passar do tempo -, percebe-se que o poder da narrativa perpassou cada um dos sujeitos envolvidos.
Muito do que aconteceu com as duas ondas de Cólera em Alagoas está passível de comparação com a logicidade da atuação do mundo contra o Covid-19. O que Sávio procura questionar em sua produção, é como houve a reincidência da epidemia - destacando tudo o que a palavra simboliza - no século XX, como todo o conhecimento médico desenvolvido do século XIX para os dias atuais.
Para ele, isso era algo que não fazia sentido e se perguntava em qual época estava, realmente, a pobreza de conhecimento. O que reaviva a questão de que deve-se aprender com o passado. Hoje, numa época “tecnotrônica”, pode ser feito coisas que no século XIX as pessoas não acreditariam. As ciências como um todo avançam muito mais rápido que antigamente, numa progressão geométrica, se me é permitido dizer, que resulta numa renovação informacional difícil de ser acompanhada. Contudo, há a reincidência de pandemias, e a população, os governos e as entidades de saúde, terminam por encará-las com uma repetição de atitudes.
Cabe aqui, portanto, evidenciar o principal ponto do Sávio: o processo epidêmico não se dá no processo patológico somente, pelo contrário, abrange toda a estrutura social em que o patógeno se dissemina, como se organizam as estruturas de poder, qual o nível de consciência que os indivíduos tem desse layout e o que tem sido feito em cada uma dessas situações para que haja a manutenção do poder. Ele conclui, dessa maneira, que nós somos a epidemia.
É impossível discordar do historiador, quando se há tanta iniquidade no mundo. Choca-me pensar que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, o quociente entre os rendimento médio dos 10% com maiores rendimentos e dos 40% com menores rendimentos do estado de Alagoas é de 18,1. O fato desse número ser uma dezena reafirma a disparidade existente.
Luiz até traz à tona o Covid-19, resgatando o assunto para os dias atuais, quando afirma que nós que damos vida ao vírus, que ele caminha porque nós caminhamos e, assim como nós, chega à todos os locais em que há interação humana. Nós terminamos ampliando seu poder e, ironicamente, nos tornando reféns dele, uma vez que, apesar de todos os avanços tecnológicos, não fomos hábeis para montar um sistema eficiente de contenção. Hoje, nos vemos tão aterrorizados com a possibilidade de morte trazida pelo vírus, quanto na época da Cólera; estamos aprisionados em nossas casas e cavando covas em terrenos impróprios, pois os cemitérios não aportam a quantidade de óbitos. Esse patógeno coloca em jogo não só a saúde do povo, mas a moral e a cultura, que guiam seus comportamentos, construídas ao longo dos anos, afinal, são elas, infelizmente, que o impulsionam.