Desafios e riscos para a saúde mental durante a quarentena: dicas para lidar com o isolamento social
Psicóloga, Professora e integrante da Coordenação do Núcleo de Apoio Psicopedagógico do CESMAC, Janaína Diniz, afirma que é preciso ficar atento aos sinais, manter a calma nesse período e, se for o caso, buscar ajuda profissional
09/04/2020 às 16h30
O novo coronavírus trouxe uma realidade inédita para os brasileiros, o isolamento social. Ficar em casa, sem encontrar os amigos, ou visitar os avós, sem ir ao trabalho, ao cinema ou ao show é uma medida considera urgente e necessária pela saúde pública para conter o pico da epidemia que atinge o Brasil e o mundo.
Com todo esse contexto social da necessidade do isolamento, o Núcleo de Apoio Psicopedagógico do Centro Universitário CESMAC elaborou um material importante contendo dicas e orientações para estudantes, colaboradores, e a sociedade em geral. Orientações para proteger a s Saúde Mental durante esse período.
O momento pede o reforço das forças interiores de cada pessoa, funcionando como “imunidades emocionais”, para que se possa agir com calma e resiliência diante da crise. O trabalho foi feito também para contribuir com a Comissão de Plano de Contingência para Contenção da COVID-19, criada pela Instituição desde o início da pandemia.
“Por ser uma situação inédita em nossas vidas, que nos põe em contato com nossas fragilidades e muitas incertezas preparei um material para auxiliar estudantes e colaborares a manterem a calma e a resiliência nos dias de quarentena e isolamento, devido aos impactos emocionais que a situação pode ocasionar. Lembrando que, se a situação ficar insustentável, é importante buscar ajudar de profissionais para que seja avaliada a necessidade de medidas terapêuticas”, esclarece a Psicóloga Janaína Diniz Guedes.
A profissional destaca ainda: “Temos a consciência de que o momento exige de nós mudanças urgentes de posturas e hábitos antigos, desde os mais simples, como lavar melhor as mãos, até os mais complexos, construindo novas formas de demonstrar nosso afeto por meio do cumprimento, de modo a entender que um gesto acolhedor ou uma palavra de carinho podem substituir beijos, abraços e aperto de mãos”, reforça.
A seguir, confira as dicas passadas pela Psicóloga e Professora Janaína Diniz Guedes, para manter a Saúde Mental em tempos de isolamento social:
FOCO NOS FATOS
Evite assistir, ler ou ouvir notícias que possam causar ansiedade ou estresse; procure informação, principalmente, para tomar medidas práticas para preparar seus planos de proteção para você e seus entes queridos.
Procure se atualizar em horários definidos, uma ou duas vezes por dia. O fluxo repentino e constante de relatos a respeito do surto pode deixar qualquer um preocupado. Foque nos fatos e busque informações de sites confiáveis, para distinguir informação de boatos.
Para alguns, aprender a lidar com frustrações é muito difícil. Saber lidar com os limites que nos são exigidos na conjuntura atual, como, por exemplo, eleger prioridades, ficar em casa, adiar festas, eventos, viagens e férias é uma atitude inteligente e demonstra amadurecimento ao fazê-los.
Na atual situação, é importante focar no que podemos fazer, ao invés de insistir em fazer o que não devemos. Nossa casa significa, simbolicamente, nosso "eu interior" e o "ficar mais em casa" nos remete às pendências que temos em relação a nós mesmos e às pessoas com as quais convivemos. O momento é de reflexão, autoavaliação, organização interna e externa.
COMPARTILHE CASOS POSITIVOS
Sempre que possível, encontre oportunidades para dar voz a histórias positivas e imagens positivas de pessoas que tenham sido afetadas pelo novo coronavírus e se recuperado, ou que tenham apoiado um ente querido durante a recuperação e queiram compartilhar suas histórias.
Compartilhe, ainda, atividades benéficas que podem ser utilizadas dentro de casa, desde uma atividade física a um filme, livro ou concertos online – feitos por meio de lives nas redes sociais (uma tendência crescente nos perfis oficiais de grandes nomes da música nacional e internacional).
PARA QUEM CUIDA DE PEQUENOS
Ajude crianças a encontrarem maneira de expressar sentimentos ruins, como medo e tristeza. Atividades criavas, como brincar e desenhar, podem ajudar no processo.
Em tempos de estresse e crise, é comum que as crianças fiquem mais apegadas e exijam mais dos seus pais e cuidadores. Discuta a Covid-19 com as crianças de maneira honesta e apropriada à idade. Estimule a criança a continuar a socializar e interagir, ainda que só com a família, caso necessário.
PARA QUEM CUIDA DE IDOSO
Pessoas mais velhas, especialmente as que estão isoladas ou que têm algum tipo de limitação cognitiva, podem tornar-se mais ansiosas, nervosas, agitadas e estressadas durante o surto ou quarentena. Providenciar apoio prático e emocional por meio das redes familiares e profissionais de saúde é bastante útil nesses momentos.
Também é importante compartilhar fatos sobre o que está acontecendo e fornecer informação clara sobre como reduzir o risco de infecção em termos que os idosos possam entender, com respeito e paciência.
Outra recomendação é que mais membros da família sejam envolvidos para ajudar a apoiar os mais velhos e auxiliá-los com as medidas de prevenção, como lavar as mãos da maneira correta, por exemplo.
CUIDADOS COM OS ESTIGMAS
O novo coronavírus deve afetar pessoas em muitos países e regiões. Não existe nenhuma relação da doença com uma etnia ou nacionalidade. Demonstre empatia com todos os afetados, em qualquer país. As pessoas infectadas não fizeram nada errado e merecem nosso apoio, compaixão e gentileza.
Não se refira às pessoas com a doença como “casos de Covid19” ou “vítimas”, “famílias de Covid-19”, “adoentados”, etc. Eles são “pessoas com Covid-19”,“estão em tratamento” ou se “recuperando” e, depois de recuperados, continuarão sua vida normal em família, no trabalho e com seus entes queridos. Ressaltamos que é importante separar a pessoa e a sua identidade do vírus em si, para reduzir o estigma.
LIBERE O ESTRESSE COM ATIVIDADES POSITIVAS
Evite formas errôneas de lidar com o estresse, como o uso de tabaco, álcool ou outras drogas. A longo prazo, eles pioram o seu bem-estar físico e mental. Este é um cenário sem precedentes para muitos trabalhadores e estudantes, especialmente aqueles que nunca participaram de respostas semelhantes a uma crise ou pandemia. Para os que têm alguma experiência, tente utilizar o que deu certo no passado e que pode ser útil de novo. Você pode conseguir reduzir o estresse.
Para ocupar o tempo, busque práticas benéficas que, habitualmente, já lhe davam prazer, como dança, atividades aeróbicas, meditação, leitura, filmes, músicas, jogos e artes plásticas.
APROVEITE O MOMENTO COM FAMILIARES
Mantenha as rotinas com seu núcleo familiar sempre que possível e crie novas rotinas, principalmente com as crianças em casa. Pense em atividades lúdicas e pedagógicas para fazer com elas. Sempre que possível, incentive as crianças a continuarem brincando e se sociabilizando com os outros, mesmo que somente com a família, por causa do distanciamento social do momento.
MANTENHA CONTATO COM AMIGOS VIRTUALMENTE
Fique em contato e mantenha sua rede de amigos e conhecidos. Ainda que isolado, tente ao máximo manter sua rotina e crie novas.
Se as autoridades de saúde recomendaram distância física para conter o surto, você pode manter a proximidade digital com e-mails, redes sociais, telefone, teleconferências. Habite suas amizades, habite suas relações – estamos todos conectados e dividindo os mesmos anseios.
AUTOCUIDADO
Durante esse período de estresse, esteja atento a seus sentimentos e demandas internas. Envolva-se com atividades saudáveis e aproveite para relaxar. O exercício constante, o sono regular e uma dieta balanceada ajudam. Mantenha tudo em perspectiva.